A agricultora Thais Neres Krindges, de Concórdia, no Oeste de Santa Catarina, se viu nervosa, ansiosa, chorando demais e sem vontade de sair da cama. Segundo ela, foi quase um burnout. Após isso, criou uma iniciativa com foco na saúde mental dos trabalhadores do campo, ao perceber que não era a única.
A catarinense de 28 anos foi destaque na 5ª edição do Programa CNA Jovem, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, em Brasília. O projeto busca o bem-estar no meio rural, aproximando agricultores com conversas e apoio de profissionais da saúde mental.
Para Thais, o isolamento geográfico, a dificuldade de conseguir atendimento, as mudanças no clima e a falta de um salário fixo colaboram para que produtores rurais, como ela, sofram com a saúde mental.
Segundo o Observatório Agro Catarinense, do governo do Estado, cerca de 1 milhão de pessoas vivem em áreas rurais em Santa Catarina. Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2022, apontou que a população rural, em geral, tem mais dificuldades de acesso a tratamentos e recursos para cuidar da saúde mental, em relação a moradores das cidades.
Como surgiu a iniciativa
Thais morava em Ipira, quando, aos 20 anos, trocou a zona urbana pela zona rural de Concórdia. Tocando a propriedade que namorado já tinha ao lado dele, percebeu como a vida era diferente, e, mais do que isso, como o acesso à saúde mental era diferente. Ela precisou sair do campo para buscar ajuda médica e contar com o apoio de uma psicóloga.
Em conversas com outros agricultores, percebeu que muitos também enfrentavam estresse, ansiedade e depressão. Poucos deles, no entanto, compreendiam o que aqueles sintomas significavam.
A primeira edição do projeto ocorreu em outubro de 2023. O segundo encontro foi em abril, e o terceiro estava previsto para setembro. Nestes momentos, a intenção é criar uma rede de apoio e compreensão, não apenas de saúde mental, mas levando conhecimento aos produtores rurais.
A produção rural dela começou com jabuticabas, mesmo que, na época, não entendesse muito de precificação e das necessidades que a cultura tinha. Hoje, produz também leite, batata-doce, açúcar mascavo e outros alimentos, e sonha em ter a própria indústria familiar.
— É puxado, tem dias que a gente não tem tempo para nada. Mas tem dias que a gente pega e vai pescar, vai ter qualidade de vida, porque eu prezo muito isso hoje, depois de ter passado a minha depressão — diz a agricultora.
Fonte: NSC